Como uma garagem empoeirada me fez enxergar além do que eu via
o externo que ajuda organizar o interno
Essa semana bateu em mim o espírito do doido da faxina.
Estamos no outono, essa época do ano o tempo é seco e venta demais na região onde moro, o que acaba trazendo muita poeira para dentro da garagem aqui de casa. Olhando para aquele pó escuro acumulado durante a semana, mesmo depois de um dia cheio, resolvi pôr um fim naquele congresso de ácaros na minha garagem.
Era sexta-feira por volta das 20h, estava frio, eu estava cansado pra cacete, mas sei lá … uma inquietação tomou conta de mim. Retirei o carro, varri, lavei, tirei o pó dos objetos que lá estavam e organizei tudo.
Pronto, está feito, pensei comigo. Porém, olhando para o terraço e minha área de serviço percebi que se encontravam num estado parecido. Com isso posto, a insanidade faxinística tomou conta novamente e fui para a arrumação dos outros espaços.
Pronto, agora está feito mesmo. Putz, que sensação boa, casa desempoeirada e com cheiro de limpeza.
Aquilo trouxe uma paz alucinógena - fiquei viajando - e nessa minha viagem comecei a juntar as pontas que estavam soltas na minha cabeça.
Minha casa do lado de dentro estava limpa e organizada, mas a garagem, a área de serviço e o terraço, estavam o oposto. A correria daquela semana pode ter sido um fator que me derrubou para manter tudo em ordem, mas não era isso que incomodava.
Meus pensamentos são aleatórios e minha mente tem horas que dá uma acelerada insana que me deixa exausto. Não desligo e fico girando assuntos desconexos.
Por isso, quando me deparo com ambientes bagunçados, aquilo me causa incômodo, que revira ainda mais a minha cabeça.
Li uma frase do Kafka que ilustra esse sentimento: "A desordem exterior é um reflexo da desordem interior".
Talvez seja por isso que fiquei tão incomodado quando encontrei minha garagem naquela condição.
Organizar o externo me ajuda a organizar o interno.
Talvez já tenha acontecido algo parecido com você do que vou falar a seguir, é o seguinte.
Fiquei a semana toda passando por aquela garagem empoeirada e a área de serviço bagunçada, e de algum modo minha mente se acomodou com aquela bagunça.
Acontece, que naquela sexta-feira meus pensamentos já estavam alucinados devido a toda a carga de estresse do dia e semana, aquela condição desorganizada disparou o gatilho “que zona é essa?” e me fez criar vergonha na cara para arrumar.
A garagem limpa - que foi a primeira - me fez enxergar minha condição e possibilidade de arrumar o próximo, e depois o próximo.
Quando falo que isso pode se expandir para outras áreas é que: muitas vezes ficamos adiando coisas importantes que precisamos fazer, porque nossa mente se acostumou com o estado caótico em que nos encontramos.
Isso já aconteceu comigo inúmeras vezes. Adiar o inadiável.
Sensação de estar em movimento
Quando me propus a limpar um espaço, os outros vieram a reboque. Ligando os pontos com outras áreas da minha vida, se eu começar arrumando uma delas, outras tendem a acompanhar. Creio que isso se dá pela sensação de estar em movimento. Vou dar um exemplo.
Tempos atrás vinha percebendo que minha leitura estava piorando. Eu lia por menos tempo e com menos qualidade. Não me lembro exatamente qual foi o gatilho que me fez ter tal percepção, mas lembro perfeitamente o quão incomodado aquilo me deixava.
Pois bem, de pouquinho em pouquinho fui buscando arrumar essa situação. Busquei uma leitura mais qualificada, voltando para as bases da literatura universal. De Tolstoi a Kafka, passando por um Sêneca de quebrada, aos poucos meu ritmo e qualidade de leitura melhoraram.
A doideira disso é que essa sensação me fez querer escrever algumas coisas. De começo foram apenas pensamentos soltos e algumas notas para organizar minhas ideias. Esse processo evoluiu de um jeito que acabou se tornando esta newsletter, Desprovido de Respostas Somando Questões.
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A lição que tirei disso foi: se você ajustar uma coisa na vida por mais simples que seja, abre-se um precedente de capacidade para ajustar outras. Isso não é sinônimo de facilidade, mas sim de possibilidade.
Sêneca escreveu:
"Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos, é porque não ousamos que elas são difíceis".
Quando estamos decididos que queremos mudar, usaremos todos os métodos existentes que possam funcionar para nós. Mas para isso acontecer, a primeira coisa é termos a percepção do que precisamos e queremos.
Eu só limpei minha casa porque tive percepção e dei o primeiro passo - nesse caso foi varrer a garagem. Isso me fez dar continuidade nos outros, mas precisei ir até lá e fazer. Passo por passo.
Meu desafio
O mesmo acontece com nossos problemas. Queremos vê-los resolvidos, mas não queremos fazer as pequenas coisas que somadas levarão à solução.
É preciso reconhecer nossa responsabilidade em cada situação e condição. Não estou falando em sentir culpa por estar onde está. A parada é perceber e reconhecer o que transforma o pensar em ação.
Por tudo que envolve minha natureza humana imperfeita, reconheço que produzo mais barreiras do que caminhos fluidos.
Meu desafio está sendo trazer à tona em consciência os incômodos que possibilitará fazer mudanças em busca desses caminhos.
Ainda existem muitas lições a aprender. O que parece difícil são apenas as lições que escolhemos para nós mesmos. Se está fácil, então não existem lições, apenas coisas conhecidas.
Uma garagem empoeirada trouxe pro meu consciente que não era só aquele local que precisava de uma limpeza - minha mente também - e com urgência.
Pois é, seguimos…
Abraços.
Obrigado por ler!
Antes de partir
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Apenas mais uma coisa
Pensar melhor é uma habilidade que pode ser treinada.
Devido a essa possibilidade, produzi um guia introdutório de como podemos fazer isso de forma prática e organizada.