“Você sabe o que as pessoas realmente querem? Todo mundo, quero dizer. Todo mundo no mundo está pensando: Eu queria que houvesse pelo menos uma outra pessoa com quem eu pudesse realmente conversar, que pudesse realmente me entender, que fosse gentil comigo. É isso que as pessoas realmente querem, se estiverem falando a verdade.”
— Doris Lessing
Quando li a citação acima na newsletter Philosophy Quotes, fiquei pensando não somente no que as pessoas querem, mas principalmente no que eu quero.
Imagem de Gisela Merkuur por Pixabay
É o seguinte …
No fundo, acredito que todo mundo quer de um jeito ou de outro o que a Doris Lessing escreveu - ser compreendido e se sentir amado. Acontece que essa necessidade mais do que humana se perde em meio a doideira da vida moderna.
Estas doideiras contemporâneas muitas das vezes fazem a gente confundir compreensão e amor, com validação externa.
Fiquei pensando como é fácil me perder no caminho de um processo interno de análise e pesquisa do que sou, do que quero e também do que gosto. Esse troço pode facilmente se tornar uma busca pela aceitação alheia.
Redes sociais, influenciadores e a cultura da celebridade, deixam na cara um modelo que pouco, ou nada, tem a ver com a realidade da maioria das pessoas.
Se você viu, tá guardado no seu cérebro.
Tudo que a gente consome alimenta nossas vontades, mesmo que de forma inconsciente. Eu sou, você é (mesmo que não admita), de algum jeito influenciado por esse mundo conectado desconexo atual.
O resultado dessa equação pode ser um monte de pessoas frustradas e perdidas em desejos e vontades que não são seus, sendo incapazes de encontrar satisfação na própria vida.
A ilusão nos afasta do essencial
Minha sogra sempre usa uma frase muito sábia, que é: “Vontade dá e passa”.
Uma baita verdade filosófica vindo de uma pessoa simples, que pelo ato de viver, o viver, percebeu que muitas das coisas que desejamos, na verdade não precisamos.
A impressão que tenho é que cultivamos a obsessão pelo extraordinário, alimentada por um sistema que lucra com a insatisfação do outro.
Teorias de prosperidade, lei da atração e mais um monte de pseudo coisas de sei lá o quê, são divulgadas prometendo dinheiro, sucesso e reconhecimento como conquistas acessíveis à todos. A maioria desses ideais modernos se mostram inalcançáveis, e o fracasso, nesse contexto, não é visto como parte da vida, mas sim como um sinal de inferioridade.
Esse consumo de vidas perfeitas e extraordinárias, faz a vida comum, com momentos simples, ser o tempo todo desprezada, quando na verdade, é nela que se encontram as coisas que realmente importam.
Cada dia que passa fico mais convencido que para viver de maneira autêntica, pelo que eu realmente quero e valorizo, preciso eliminar distrações e ressignificar crenças que foram impostas por terceiros ao longo da vida.
O que eu quero
Nem sempre é fácil expressar o que quero. Desejos e palavras se embaralham e não se expõem de forma clara.
O bom é que existem outros meios para expressar o que sinto e desejo - um destes meios é a arte. Então, vou usar uma música que fala por mim.
A canção “Casa no campo” de Zé Rodrix e Tavito, interpretada pela gigante Elis Regina diz o seguinte:
“Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais.Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais.Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais.”
A parte dos amigos, discos e livros está bem mais atingível. Soma-se a esta parte minha família que é minha base, e o que me mantém alinhado aos meus valores.
A casa no campo está distante, preciso fazer uma grana pra isso acontecer rsrs… Dinheiro é importante e ajuda bem, apesar de não ser meu valor primário.
É difícil pra caceta não se deixar levar pelas pressões contemporâneas, contudo, quando a atenção está voltada pro que importa de verdade, amar e valorizar a simplicidade passa a ser parte essencial do viver.
Tamo nessa busca
Um passo por vez, seguimos…
Obrigado por ler!
Antes de partir
Competir contra o tempo não é importante.
O que promete ser muito mais significativo para mim hoje é o quanto posso me divertir, se consigo terminar os quarenta e dois quilômetros com um sentimento de contentamento.
Apreciarei e valorizarei coisas que não podem ser expressas em números, e tentarei capturar um sentimento de orgulho que deriva de estar em um lugar ligeiramente diferente.
Haruki Murakami, “Do que eu falo quando eu falo de corrida”.
Antes que eu me esqueça
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